Insuspeito

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21 março 2005

Os números que traem o mártir

Desde há muito que nos habituámos a conviver com a imaginação fértil do Sr. Presidente da Câmara e com as suas órfãs leituras sobre a realidade. Só ele vive e só ele vê uma realidade onde o único ser íntegro, sério, justo e competente é ele. Uma realidade onde se “não reinasse alguma incompetência e falta de zelo”, como diz, tudo teria sido diferente no mandato que este ano termina.
Júlio Barroso é presidente de um Executivo com maioria absoluta mas, segundo ele, é ele o único que não tem quaisquer responsabilidades sobre os reconhecidos falhanços da sua prestação autárquica. É (quer ser), portanto, uma vítima. Mais uma desgraçada vítima do nosso sistema político!
Desde sempre que a tolerância foi da nossa parte o princípio seguido sobre a sua desconcertante esquizofrenia. Nunca esquecendo, obviamente, que esse é um daqueles “atributos proibidos”, designadamente, de quem tem as responsabilidades que ele tem.
Como não podia deixar de ser, vem isto a propósito da sua recente entrevista a um jornal local. Como da esquizofrenia à mentira a distância é curta, deixar passar isso em claro é comportamento que não se enquadra na nossa maneira de estar na vida pública. Combate de opiniões, mesmo que demagógicas e fantasiosas, sim. Cruzar os braços perante a mentira, não!
Para quem diz que é “muito exigente consigo próprio” e que “prepara e estuda as coisas com cuidado”, e mesmo reconhecendo que “números” nunca foram a sua especialidade, dizer com tão surpreendente à-vontade que, actualmente, “as dificuldades são maiores e o dinheiro é agora bem mais escasso do que era na década de 1990”, para explicar a tão fraca prestação do seu mandato autárquico, é algo que obriga à reposição da verdade.
Pondo de lado, até, a receita extraordinária obtida com a venda da ETAR de Lagos (2,3 milhões de contos!) – uma daquelas decisões políticas que o Sr. Presidente diz que, há meia dúzia de anos, não era admissível tomar; por isso o PS esteve contra, e agora é a favor…–, números são números, e aqueles que são do meu conhecimento são precisamente os mesmos que o Sr. Presidente tem a obrigação de conhecer mas que, pelos vistos, finge não conhecer.
A evolução da receita corrente – onde não entram, é claro, as “extraordinárias” – da Câmara Municipal de Lagos é nítida. O seu trajecto desde 1998, prova que as receitas, desde 2001, têm-se situado em patamares nunca dantes atingidos.
Se antes as receitas andavam abaixo dos 20 milhões de euros anuais, em 2001 passaram essa barreira, para nos anos subsequentes evoluírem, sucessivamente, para os 22,9 milhões (2002), 28 milhões (2003) e para os 31,4 milhões de euros (!) no ano transacto. Se compararmos, por exemplo, a receita corrente da câmara no ano de 1998 – 13,9 milhões de euros – com a receita do ano passado, facilmente chegamos à conclusão de que em 2004 a receita é, nem mais nem menos, claramente superior ao dobro daquela.
Como é que isto se explica? Quem, por exemplo, paga contribuição autárquica, do mais rico ao mais pobre, sabe do que estou a falar. Quem é que aumentou a contribuição autárquica? Quem paga, sabe igualmente quem foi – Júlio Barroso, o novel mártir da política nacional.
A propósito. Se o pavilhão e as piscinas até se pagam com o dinheiro da venda da ETAR, se a escola básica da Ameijeira até custou menos do que o previsto (sempre é mais barato substituir uma pala de betão por uma cobertura de tela…), se a nova escola Gil Eanes até é o Governo que a paga e se as realizações são tão poucas, para onde é que vai tanto dinheiro?

1 Comentários:

Às 11:48 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Porque será que eu não vi um artigo sobre este assunto no Canallagos, por exemplo? Ou na imprensa local?
As formas de intervenção ou são, definitivamente aperfeiçoadas, ou então corre-se o risco de falar para um público que não tem rosto.
Há muita falta de jeito na forma como se intervém, mas o mais impressionantemente "estúpido" é a falta de tacto.
ESTÚPIDO - do Lat. stupidu, admirado
adj. e s. m.,
falta de inteligência, de juízo ou discernimento;
que está sob a impressão de estupor;
atónito;
ant.,
entorpecido, insensível.

TACTO
"do Lat. tactu"
s. m.,
sentido da palpação;
fig.,
habilidade;
bom senso;
prudência.

Agora é consigo, amigo, veja lá o que eu quero dizer e não faça conjecturas precipitadas nem irracionais.
A palavra é multipla os caminhos para lá chegar também, mas só vence que escolhe o melhor e nem sempre o melhor é o mais curto.
É preciso saber e o saber não nasce connosco.
AG

 

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