O fim do Verão fica politicamente marcado pelos sinais de ruptura entre o PS e o presidente Júlio Barroso.
São hoje nítidas as inevitáveis definições de posição entre os ultras de Barroso e os outros, aqueles que nunca foram seus convictos apoiantes mas que, por questões diversas - algumas de puro oportunismo, outras de lealdade partidária -, deram a cara por ele.
As nomeações, por si apadrinhadas, das administrações das duas empresas municipais e a linha governativa de Sócrates em muito aceleraram o partir da corda.
O presidente, sem mais paciência para a mesquinhez e hipocrisia política da estrutura socialista local, vinha calculando isso ao pormenor desde há muito. Porque há muito que se sabia que só precisava do PS para ganhar as últimas eleições. E assim foi. Cá se fazem, cá se pagam...
Hoje, Júlio Barroso é, realmente, independente do PS. Já não um independente eleito pelo PS, o que é substancialmente diferente.
Hoje, Júlio Barroso não é só o presidente que domesticou o PS, que continua provedor da Misericórdia e que é patrão - com o dinheiro dos contribuintes, claro está! - de mais de um milhar de lacobrigenses.
É também quem manda, sozinho, no urbanismo local e o real patrão de duas empresas para as quais transferiu muitas das principais competências da Câmara Municipal.
Júlio Barroso, por ingenuidade e incapacidade do partido por que concorreu, agarrou todo o poder disponível e é, verdadeiramente, quase um rei.
Nunca, em tantos anos de Poder Local, tivemos em Lagos alguém com tanto poder nas mãos.
Nem a pequena imprensa às ordens lhe falta para encomendar opiniões-recados para consumo interno.
Por que é que nada o prende ao PS ou à sua equipa de vereadores, de quem continua a dispor como entende? A resposta está dada.
É, pois, uma (re)entrada de leão que o motivará, por certo, a um mandato político ainda mais arrogante que o anterior. E que, claro, o convencerá a querer fazer o terceiro, embora sem mais se obrigar à muleta socialista.
É verdade que sempre disse que estava disposto a fazer apenas dois. Mas, se é verdade que o poder cega...?
O que ainda resta do PS não lhe perdoará tamanho golpe.
Terá sido por acaso do destino que o Bloco de Esquerda veio a Lagos para uma, assim designada, sessão pública?
Não uma iniciativa qualquer, discreta, à sua verdadeira e actual dimensão partidária e política - logo para um comício, em Agosto, no jardim da Constituição!
Que outro e melhor patrocínio podia ser dado pelo presidente a Franscisco Louçã?
Que melhor empurrão podia o presidente dar ao seu amigo Bloco para crescer em Lagos?
Para alguns, isso pode não querer dizer nada.
Para mim, pode ser sinónimo de muito do que se passará por diante. E, claro, inevitavelmente, a prova do real carácter político do independente Júlio Barroso.